Comece a ouvir o que você fala

Eu sempre fui um ímã de pessoas problemáticas. Todos ao meu redor acabam depositando em mim alguma frustração, uma decepção, uma insatisfação, um medo, um fracasso qualquer.

Penso que essa atração de malucos por mim, é uma coisa que se esbarra no meu genuíno interesse em entender história das pessoas e saber criar uma linha lógica. É como se a narrativa de alguém fosse um caminho que levasse para a mente dela. Sempre fui inclinado a compreender o impacta da história das pessoas nas vidas delas.

Nesse contexto, acabo conversando com muitas pessoas diferentes, com dilemas distintos durante a minha semana, mas raramente percebo com clareza aquilo que falo a elas nos seus dramas pessoais.

Na última semana, resolvi anotar algumas dessas conclusões que chego com elas pensando que talvez possa me ajudar e ajudar vocês a pensar em pontos cegas das vidas de todos. Uma coisa que a escrita me ensinou é a guardar toda e qualquer mensagem que sai da minha boca. Eu sempre sei tudo que falo, ouço e aprendo com as pessoas da minha vida.

Então, quero dividir com você um pouco desse conjuntos de ideias embaralhadas:

1. Quando a gente não percebe o instante inadiável do agora, as mãos do passado e do futuro seguram nosso pescoço numa espécie de asfixia sufocante. E nessa falta de ar momentânea, nesse ambiente abafado, vamos respirando fundo em busca de um ar escasso até cansar-se de lembrar do que já aconteceu, ou sentir-se afogado por antecipar o que ainda vai acontecer. O presente, então, este sim, se torna um objeto desvalorizado. Nesse contexto, todo o agora é carente. Não estando de focado na potencialidade da atualidade, a mente não encontra vida. Despossuído do seu contemporâneo, o homem é sem vida, portanto, sem felicidade visível.
2. O medo do amor é uma realidade. Quando ele não é correspondido, expõe a possibilidade da rejeição, abandono e repulsão. Quando é correspondido, compromete a suposta independência que determinado sujeito tinha daquele sentimento, envolvimento e compromisso. O terreno do amor é o do risco. É como se o amor fosse uma doença transmissível ou um delírio involuntário que causa dependência do outro. Amor é nada mais, nada menos do que dor e sofrimento. Associamos o amor a várias sensações e sentimentos, mas ele está mais ligado a consistência, constância e realidade.
3. A gente tem que aprender que alguém que nos trata bem é alguém que não nos deixa desviar do que é bom. Estar com pessoas que nos tratam bem, não é apenas estar com quem concordamos. A franqueza bem usada é atributo de quem ama. Se queremos viver com alguém que nos empurra para cima, que nos incentiva na potencialidade e nos faz crescer, não podemos escolher o caminho fácil de andar com quem covardemente abraça a nossa fraqueza.
4. Conhecer os principais gatilhos que são fonte de frustração, de culpa, de vergonha, de dor, de medo e de ganância é a coisa mais importante para aprender a dar respostas emocionais adequadas. Você se torna alvo fácil de gente narcisista sempre que seu reflexo temperamental se torna interessante para ele. A natureza volúvel é a arma preferida de gente egocêntrica. Seja desinteressante diante de um vaidoso.
5. Entre honra, respeito e dinheiro, fique com os dois primeiros. Ninguém nunca recebeu uma homenagem especificadamente por ser rico. Honra não é titulo, nem cargo e nem posição. Honra é devoção total a não se trair. Respeito é apreço pela reverência, simpatia a compostura e uma obsessão ao cumprimento. Quem perde o respeito e a honra sempre atrás de dinheiro é prostituta. Tudo bem, alguns nasceram para ser prostitutas mesmo.
6. Há uma diferença entre algo não ser, por natureza, sadio ou não estar, por circunstâncias, sadio. Algo bom pode não ser por determinado momento. O mesmo vale para as coisas que são ou que estão perigosas. Algo pode ter um tamanho enorme, mas caber na gente. Outro pode ser microscópico e não se encaixar em nós. O segredo está em tornar-se maior do que somos e dar o tamanho devido às coisas dentro da gente.
7. A intensidade do efeito de uma emoção muito forte na gente fala muito sobre a história da gente e sobre a nossa natureza. Só que ao se deparar com a realidade de que nada deu muito errado ou muito certo de uma maneira definitiva, faz com que consigamos retomar a calmaria e aliviar o efeito da ansiedade paralisante. Os mecanismos de perpetuação de traumas são sempre a culpa e a vergonha. Feridas não tratadas causam epidemias invisíveis.
8. Se sentir bem com algo o tempo inteiro não gera nenhum enriquecimento. Se ficamos apenas ao redor de pessoas que nos enchem de confirmações externas sobre uma crença, não estamos construindo um repertório suficiente para aprender a viver mais e melhor, não estamos colaborando para o próprio avanço no que diz respeito a capacidade intelectiva, e nem nos importamos em conseguir ampliar ainda mais as novas possibilidades de incorporar coisas úteis ou refutar outras que não nos interessam com inteligência.
9. Há uma impressão de que aquilo que está fora de nós, distante do nosso alcance, separado da nossa possibilidade, retirado do que conhecemos são as coisas mais interessantes que podemos possuir. Em certo aspecto, isso não é a mais absurda das ideias. Há muito a ser encontrado. Agora, sentir atração pelo simples é também um caminho importante para a liberdade. E o simples é trabalhar o suficiente, morar numa casa satisfatória, ser habilmente independente, estar preparada para o sofrível, saber contar as bençãos e reeducar a sua própria ambição.
10. Num mundo atordoadamente miserável de artifícios, pobre de verdades sólidas, paupérrimo de respostas claras sobre tudo, sustentado miseramente de migalhas de apego, necessitado de intenções mais diretivas, desvalido de apelos e solicitações espontaneamente foscas, será sempre necessário entregar-se sem reservas a toda e qualquer confidência, silêncio ou confissão que nos carregue para a discrição, para a intimidade e para a privacidade de um sigilo confortante de determinadas alianças inquebráveis.

Crie o hábito de perceber tudo o que você diz e entenderá que existem coisas em você que você mesmo pode se ajudar. Aconselhe-se como se você fosse uma pessoa do seu ciclo de amigos. Isso pode te ajudar a ter mais clareza em algumas situações.

Alguma dessas coisas fez sentido para você? Leia mais uma vez. Seria uma alegria se quiser me contar.

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