Deveríamos botar tanta fé na juventude assim?
É inegável que nos dias de hoje existe um certo fetiche em torno da juventude e de sua suposta capacidade de transformação e inovação. No entanto, é preciso questionar esse idealismo que muitas vezes mascara a realidade e contribui para a criação de expectativas irreais e até mesmo prejudiciais para os jovens.
Uma das principais manifestações desse fetiche é a ideia de que os jovens são detentores de uma sabedoria incomum e que têm as respostas para os problemas do mundo. Essa crença muitas vezes é alimentada pelo mito da juventude como sinônimo de inteligência e progresso. Na prática, isso pode levar a uma superficialidade intelectual, onde a quantidade de informações disponíveis é confundida com conhecimento profundo e reflexão crítica.
Além disso, há uma tendência de glorificar o empreendedorismo como a panaceia para todos os males, especialmente quando se trata dos jovens. A ideia de que começar cedo no mundo dos negócios garantirá sucesso no mercado de trabalho é, no mínimo, simplista e enganosa. A juventude deve ser um período de formação integral, que vai além do treinamento para o mercado de trabalho e inclui o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais e intelectuais.
Outro equívoco comum é atribuir aos jovens uma suposta superioridade intelectual devido ao uso da tecnologia. No entanto, a mera exposição à tecnologia não garante um conhecimento significativo ou uma compreensão profunda dos temas. Reconhecer que a tecnologia é apenas uma ferramenta é necessário para entender esse fenômeno, e o verdadeiro desenvolvimento intelectual requer reflexão crítica e análise aprofundada.
A idealização da juventude como detentora de virtudes excepcionais pode levar a uma série de problemas, como a pressão para se encaixar em padrões irreais e a dificuldade em lidar com as próprias limitações e vulnerabilidades. Muitos jovens se veem obrigados a se submeter a provações e humilhações para serem aceitos pelo grupo, o que pode comprometer sua autoestima e saúde mental.
Os desafios reais enfrentados pelos jovens de hoje, como a instabilidade do mercado de trabalho, a falta de apoio emocional e a pressão para alcançar padrões de sucesso inatingíveis são questões urgentes. Culpar apenas questões políticas e sociais por essas dificuldades é uma forma de desviar a atenção dos problemas reais que afetam suas vidas cotidianas. É essencial reconhecer a complexidade dessas questões e abordá-las de forma holística, considerando tanto os aspectos individuais quanto os sistemas mais amplos que contribuem para elas.
É essencial questionar o fetiche pela juventude e reconhecer os jovens como sujeitos a desafios e limitações como qualquer outra pessoa. Em vez de idealizá-los como salvadores do mundo, devemos aceitar que eles são mais limitados do que dizem aqueles que lucram com essa ideia.
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@lealmurillo | Jornalista | Top Voice Linkedin | Storytelling e Conteúdo
