Ideias proclamadas nem sempre são ideias vivenciadas. E isso é um problema.

Murillo Leal
5 min readJun 14, 2023

--

Essa semana, um colega antigo que sempre afirmou valorizar a sinceridade e a transparência em suas relações, em um momento de desconforto, omitiu informações sérias para sua esposa para evitar confrontos.

Vi uma pessoa próxima que sempre fala da importância sobre ser autêntico nas redes sociais, declarar numa mesa de confraternização que devemos mostrar apenas os sucessos nas redes sociais.

Assisti uma conhecida desfilar virtudes de ser uma mãe atenciosa, e nos bastidores, sabemos que ela escolhe trabalhar sem parar para fugir das demandas pesadas de atenção com os filhos.

Um amigo de outra cidade me contou que na empresa em que trabalha, conhecida por falar da importância da colaboração e do trabalho em equipe, a competição desleal entre os colegas é sempre incentivada e a colaboração frequentemente ignorada.

Presenciei uma colega discursar sobre seu combate à desigualdade social e às injustiças, mas no passo seguinte, se gabar de suas compras usando como apoio sua posição privilegiada e vantajosa.

Todas essas cenas me fizeram pensar: será que as ideias que falamos aos quatro ventos são mesmo aquelas que governam nossa vida por inteiro?

A pergunta é complexa, mas expõe a nossas contradições naturais

Essas cenas me fizeram pensar sobre a existência de ideias escondidas que nos governam e que verdadeiramente carregamos em nós, ainda que dizemos o oposto.

Eis um fenômeno intrigante, que tem consequências reais em nossa vida cotidiana. Somos desafiados a investigar a coerência entre as convicções que proclamamos e as que abraçamos de verdade.

Não basta apenas soltar palavras ao vento; é preciso adentrar nossa experiência vivida e compreender quais ideias são verdadeiramente essenciais em nossa existência.

Acreditar em algo não se resume a uma mera defesa verbal; é preciso investir nessa ideia, incorporá-la à prática e submeter toda a nossa vida a esse pensamento.

A discrepância entre as ideias expressas e as ideias vivenciadas revela a complexidade do ser humano multifacetado, que deseja pouco se livrar dessas confusões mentais que prejudicam sua vida.

Por um lado, as pressões sociais, a necessidade de conformidade, o anseio por pertencer a um grupo, tudo isso muitas vezes nos leva a adotar posturas superficiais que não refletem necessariamente nossas convicções mais profundas.

Nesse sentido, para compreender as ideias que de fato guiam nossa vida, é preciso lançar-se numa análise profunda das influências sociais que moldam nosso comportamento e das normas que nos rodeiam.

Investigar crenças requer explorar processos mentais e emocionais profundos

A investigação das crenças demanda uma investigação dos nossos mecanismos mentais e emocionais mais internas. Nossas vivências, nossos traumas, nossos desejos e nossas aspirações pessoais constroem nosso sistema de crenças e têm um impacto significativo nas ideias que abraçamos.

É necessário um real interesse em refletir sobre experiências pessoais, questionar as crenças existentes e buscar diferentes perspectivas. Isso pode ser feito por meio da autorreflexão, diálogo com os outros, por terapia mais honesta, por ter práticas de direcionar a atenção para as sensações, pensamentos e emoções que surgem agora e busca por conhecimento da realidade vista, da verdade interna e do compromisso em mobilizar energia para a mudança.

Este processo requer tempo e abertura para reconsiderar suas ações e pensamentos à medida que você cresce e se desenvolve. Portanto, para compreender plenamente nossas crenças, é essencial examinar o contexto psicológico no qual essas ideias emergem e entender como elas se relacionam com nossa identidade e nosso bem-estar psíquico.

É fundamental você reconheça e explore as emoções relacionadas às suas crenças. Observe como suas ideias podem estar ligadas a sentimentos como medo, ansiedade, tristeza ou felicidade. Isso pode fornecer percepções sobre como suas crenças afetam seu bem-estar emocional.

Se não reconhecermos a discrepância entre as ideias que afirmamos e aquelas que genuinamente vivenciamos, podemos permanecer presos em uma existência inautêntica e desalinhada. Se não nos engajarmos em uma investigação sincera e profunda de nossas convicções, arriscamos viver uma vida de incoerência e falta de integridade.

Sem o investimento ativo em nossas convicções e sem vivenciá-las na prática, podemos nos sentir perdidos e sem direção em nossa jornada pessoal. Ficamos limitados a meras palavras vazias, sem uma base sólida para construir uma vida autêntica.

Ignorar a discrepância entre nossas ideias e nossas vivências pode levar a um sentimento de vazio e falta de propósito. Pode também levar a conflitos internos, já que existe uma desconexão entre o que afirmamos acreditar e como realmente vivemos.

Reconhecer essa discrepância e buscar o autoconhecimento e a autenticidade é um exercício imediato. Somente assim poderemos encontrar um sentido mais profundo em nossas vidas, construindo uma base emocional sólida para nossa jornada pessoal e vivendo de acordo com nossas verdadeiras convicções.

O que podemos fazer para ser mais coerentes?

Minha mais sincera recomendação é tire um tempo para refletir sobre suas ideias, crenças e valores. Pergunte-se se realmente vive de acordo com essas ideias ou se há uma desconexão entre o que diz e o que faz.

Faça perguntas profundas a si para entender as razões por trás das ideias que proclama. Examine suas motivações, influências e experiências que moldaram suas convicções. Questione se essas ideias são genuinamente suas ou se foram adotadas sem reflexão adequada.

Comprometa-se em traduzir suas ideias em ações concretas. Identifique áreas em sua vida onde há uma lacuna entre o que acredita e como vive, e tome medidas para trazer alinhamento. Isso pode envolver ajustar comportamentos, tomar decisões corajosas ou buscar novas oportunidades que estejam mais alinhadas com suas convicções.

Cultive a integridade, sendo honesto consigo mesmo e com os outros. A integridade envolve viver de acordo com seus princípios, mesmo quando ninguém está observando. Seja coerente em suas palavras, ações e valores.

Considere buscar o apoio de um mentor, coach ou terapeuta para auxiliá-lo nesse processo de autoconhecimento e alinhamento. Um profissional experiente pode oferecer orientação, percepções e ferramentas para ajudá-lo a criar uma vida mais autêntica.

Mudanças significativas levam tempo e esforço. Seja paciente consigo mesmo durante esse processo de transformação. Reconheça que todos cometemos erros e que é normal passar por desafios ao tentar viver de acordo com nossas ideias. Pratique a autocompaixão e aprenda com cada experiência.

@lealmurillo | Jornalista | Top Voice Linkedin | Storytelling e Conteúdo

Quer aprender mais sobre Storytelling? Clique aqui.

--

--

Murillo Leal
Murillo Leal

Written by Murillo Leal

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br

No responses yet