Não orbite no mundo da autoimagem turva

Murillo Leal
4 min readJan 24, 2023

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Para algumas pessoas, conhecer-se significa aproximar-se o máximo que der das impressões que ele próprio tem a seu respeito.

E tendo encontrado uma roupagem adequada para se enfeitar socialmente, ela permanece nesse personagem autorreferenciado, às vezes, a vida toda, enquanto disfarça e sofre diante da imagem do espelho.

Por exemplo, se alguém tem a sensação de ser honesto, costuma ignorar qualquer impulso suspeito que possa parecer desonesto e se apega fortemente às ações opostas que podem o deixar mais perto da imagem de uma pessoa íntegra.

A atitude é semelhante à de alguém que, ao perceber que precisa emagrecer, enfatiza o consumo de alface, mesmo que o prato principal seja uma saborosa e gorda feijoada.

Agora, suponho que nada impede mais o crescimento de um indivíduo que a falta de clareza a respeito de si, que o desvio voluntário da verdade e da falta de intencionalidade durante a jornada de autodescoberta.

Não há razão nem para um psicoterapeuta trabalhar se não tiver atuando no campo da realidade.

Ao nos aventurarmos no mundo interior, precisamos atravessar uma ponte construída com base na honestidade, no realismo e na coragem de encontrar o chocante absurdo que somos.

Isso quer dizer que, sem tratar os temas mais difíceis, sem ter contato com os conteúdos mais escuros e sem que haja audácia em vasculhar os assuntos mais inexplorados, teremos poucas chances de encontrar uma solução viável para lidar com as instabilidades de uma forma eficiente.

Girar em torno de uma imagem própria irreal não nos deixa ver o que é importante e valioso, ou seja, não aquilo que foi criado ao longo de nossa existência, mas a complexidade das emoções, dos desejos do temores que agitam dentro da sua alma.

De outra forma, essa busca de introspecção honesta será sempre um presente para quem tem compromisso consigo mesmo porque é isso que permitirá perceber o que está movendo a engrenagem toda.

Conheço um monte de gente que se diz interessado em ingressar nessa busca por autoconhecimento através da terapia com o fim de melhorar sua realidade, mas porque isso não acontece? Bom, quando converso com elas, percebo que a maioria não consegue desviar-se de razões subjetivistas ou egocêntricas.

Muitas delas já sofreram determinadas perdas (ou estão perto) e agora procuram uma ajuda na tentativa de recuperar algum prejuízo sentido. Mas ainda assim, querem descobrir não a sua responsabilidade, mas o problema do outro em relação à sua queixa, sem reconhecer que ele próprio é o objeto fundamental das causas e da necessidade do suporte psicológico.

Toda a mentalidade moderna está nessa esteira. Apenas perceberá sua verdadeira natureza quando experimentar os limites de sua compreensão.

Quando seu discernimento se esbarrar totalmente na mais absoluta transparência, você inicia então uma séria e ousada cura.

É basicamente assumir uma postura: “E se eu tentar melhorar realmente? E se começar com o que tenho agora? E se apenas não me enganasse?”.

Isso significa que, agora, você quer ter pensamentos lúcidos, quer ser bondoso consigo mesmo, quer ser gentil e estar aberto para com toda nova oportunidade de mudança.

A partir daí, você sabe que ao tentar, você se esbarrará com natureza maligna, muitas vezes tentando te dar flagrante e frequentemente você tem que fazer um arranjo entre esses dois mundos porque não consegue melhorar totalmente, mas consegue caminhar num ritmo possível.

Nesse exato instante, você está experimentando os seus limites éticos.

Você começa a ter uma ideia efetiva do que você pode e o que você não pode. E dessa forma, você desconsidera o cenário em que você precisa performar, atuar, encenar e desviar atenção para o que realmente importa.

Você tira toda aquela roupagem excessiva que esconde a pele por de trás de quem você é e apresenta sua nudez existencial como a única forma legítima de operar uma transformação necessária.

Dessa forma, você deixa de querer conquistar a afeição de qualquer um e de se submeter às humilhações de grupos.

Além disso, deixa de se comparar com aqueles que queria ser ou alcançar e também rompe com aquela imagem anterior de um ser viciado em errar. Você arriscar ser e encontrar o que se é.

Torna-se uma pessoa que diz “eu” com convicção, com algum conhecimento de causa, assume suas responsabilidades perante si mesmo, reconhece seus méritos e deméritos sem disfarçar e toma decisões com rigor, firmeza e seriedade.

A sua segurança não está mais no campo da autopreservação, mas na plena convicção de suas potencialidade e suas impossibilidades.

O amor à verdade, ao conhecimento de si mesmo e à orientação é, portanto, o que te protege de mentir viciosamente para os outros, para o mundo e para ti mesmo. Além disso, essa mentalidade não te deixa girar em torno de uma autoimagem turva.

@lealmurillo | Jornalista | Top Voice Linkedin | Palestrante e Professor | Storytelling e Conteúdo

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Murillo Leal

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br