Por que o monitoramento do Pix gera tanta indignação, e o que Storytelling tem a ver com isso?

Murillo Leal
5 min readJan 14, 2025

--

A indignação não surge do vazio. Ela é alimentada por uma memória coletiva que não se apaga facilmente. O brasileiro médio, quando ouviu nessa semana falar em monitoramento do Pix, visualizou imediatamente um Estado gigantesco e insaciável, que busca expandir seus tentáculos para alcançar cada aspecto da vida individual. Repare nos personagens.

Esse temor não é paranoia; é memória histórica. Desde a criação de impostos indiretos sufocantes até a burocratização da economia informal, nosso povo já experimentou na pele o peso de um aparato estatal que não cria riqueza, mas se alimenta dela.

Historicamente, o Brasil convive com governos que, sob o pretexto de justiça redistributiva, erguem mecanismos de controle (aqui a discussão não é politica, apenas narrativa, então me poupe disso) que servem muitas vezes mais para sufocar do que para libertar.

Cada nova medida, mesmo as mais inocentes na aparência, é recebida com ceticismo, porque o cidadão sabe que um pequeno controle hoje pode se transformar em uma grande opressão amanhã. Primeiro, monitora-se; depois, regula-se; e, por fim, tributa-se. A lógica é simples e cruel.

O Pix, enquanto ferramenta, é uma revolução tecnológica. Ele trouxe agilidade e facilidade às transações financeiras, democratizando o acesso ao sistema bancário. Mas, quando se fala em monitoramento, o entusiasmo inicial dá lugar ao receio. Por quê? Porque o controle financeiro nunca é apenas sobre dinheiro; é sobre poder. É sobre a capacidade do Estado de infiltrar-se na esfera mais vulnerável da liberdade individual: a econômica.

Permitam-me ser claro. O controle estatal das transações financeiras é sempre apresentado como uma questão de eficiência tributária ou combate ao crime. No entanto, o que está em jogo nessa narrativa é algo muito maior do que lado político-partidário.

Quando o Estado sabe de tudo, ele não apenas regula; ele condiciona, molda comportamentos e limita o que deveria ser um direito básico: a liberdade de transitar economicamente sem ser tratado como um suspeito.

Aqui entra o elemento político. Governos não operam no vazio. Eles constroem narrativas que podem variar de promessas de proteção contra crimes financeiros à justificativa de um controle mais rigoroso para evitar a evasão fiscal.

Por exemplo, programas de monitoramento financeiro frequentemente vêm acompanhados de discursos sobre eficiência estatal e combate à corrupção, criando uma imagem de governança protetora, mas também gerando desconfiança devido ao histórico de mau uso dessas ferramentas. Em regimes onde o controle estatal é exaltado como virtude, cada medida de vigilância desperta na população a suspeita de que ela é apenas o começo de algo maior.

Não é uma reação ao acaso, mas um reflexo da experiência acumulada. O povo não confia na capacidade de governar para o bem dos seus governantes. Sejam eles quem for. Essa é a narrativa vigente no sentimento de um povo. Essa é a história de um povo.

Há uma conexão íntima entre a política do controle, storytelling e a ideologia que a embasa. Quando o monitoramento é instituído, ele vem acompanhado de uma narrativa que promete proteger o cidadão. Mas o que significa proteção? Para alguns, é sinônimo de segurança; para outros, de submissão.

O brasileiro, especialmente o pequeno empreendedor, o trabalhador informal e o cidadão comum, já entendeu que, o Estado muitas vezes pode sufocar a iniciativa individual e a criatividade econômica.

Os politizados invocam seus olhares ideológicos, mas a economia também é percebida por quem nunca ouviu falar de Marx ou de Von mises. Tire do povo seus pequenos luxos, e terá sua ira.

E aqui entra o storytelling. Por que o brasileiro reage tão fortemente ao monitoramento do Pix? Porque ele percebe que, por trás de cada dado coletado, há uma história sendo contada. Uma história onde ele não é o protagonista, mas a vítima.

A indignação é alimentada pela narrativa que se desenrola no dia a dia: o comerciante que luta para manter seu negócio, o trabalhador que economiza para os estudos dos filhos, todos eles vendo sua liberdade ser gradualmente erodida. O ar de desconfiança com o estado não tem classe social.

O storytelling também é a chave para resistir. Uma narrativa alternativa, uma que valorize a liberdade econômica como um dos pilares da dignidade humana, também é considerada. Cada vez que uma voz se levanta contra o monitoramento injustificado, está se contando uma história de resistência. E essa história, se bem contada, consegue mobilizar pessoas, consciências e provocar mudanças.

A indignação com o monitoramento do Pix não é apenas sobre o Pix. É sobre algo muito maior. É sobre o direito de existir fora do alcance constante do Estado. É sobre a luta pela preservação de uma esfera privada onde o indivíduo possa criar, transitar e prosperar sem ser tratado como culpado até que se prove o contrário.

O fracasso narrativo e comunicativo do governo reside na incapacidade de traduzir seus argumentos técnicos em uma narrativa humana, capaz de dialogar com o imaginário coletivo. Concentram-se em abstrações marqueteiras para relatar uma eficiência fiscal e combate ao crime, mas isso negligencia o impacto emocional e cultural, desumanizando a mensagem e alimentando a desconfiança popular.

Sem transparência sobre os limites e objetivos reais do monitoramento, as pessoas intuem intenções ocultas, especialmente quando discursos de proteção contradizem políticas que ampliam a vigilância estatal.

Essa incoerência reforça a percepção de que a retórica oficial é uma fachada para intenções menos nobres. Ignorar a diversidade de experiências e temores entre pequenos empreendedores e trabalhadores informais, assim como falhar em narrar histórias concretas de benefícios, aprofunda a alienação.

O governo descarta o contexto histórico de desconfiança no Brasil, e não apenas perde a chance de construir diálogos, mas perpetua um ciclo de desconexão e resistência que compromete qualquer tentativa de governar com legitimidade.

Se há algo positivo a ser tirado dessa situação, é um suposto “despertar” — talvez esteja mais para aquele acordar, fazer birra e virar para o lado para esperar o sono voltar — de uma consciência coletiva que percebe que a liberdade econômica é um dos fundamentos da liberdade humana.

E aqui deixo um pensamento para inquietá-los: se aceitamos a vigilância econômica como uma necessidade, quanto tempo até aceitarmos o controle total — de qualquer governo que seja — como inevitável?

Quem entrega sua liberdade financeira hoje, sem resistência, talvez esteja preparando o terreno para uma servidão completa amanhã, seja do seu amante político ou para seu inimigo político. Não há aqui narrativa de alarde, não é o apocalipse nacional, não existe teoria da conspiração de bases anti ou governistas, mas penso seriamente nisso: A narrativa é, sim, o maior ativo desse mundo.

Mergulhe na arte do storytelling aprendendo mais num curso completo ou me deixando te ajudar a transformar a história do seu negócio, na prática, a maneira como sua marca é percebida, sentida e lembrada. Porque no final, as melhores marcas são aquelas que contam as melhores histórias.

@lealmurillo | Jornalista | Top Voice LinkedIn | Storytelling e Conteúdo

--

--

Murillo Leal
Murillo Leal

Written by Murillo Leal

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br

No responses yet