Respeite a suas intenções mais do que suas vontades
Uma das coisas que aprendi a treinar na minha vida — e que mudou completamente a qualidade da relação com tudo que interage comigo — foi a direção das minhas intenções. Descobri que melhor do que ter todas as minhas vontades atendidas, era necessário aprender a respeitar as intenções que criei para algumas atitudes boas.
Por exemplo, se a intenção das minhas férias é me desligar do trabalho, não posso abrir qualquer espaço de negociação com a minha vontade de checar o meu e-mail. Invadindo o espaço que dediquei as minhas intenções de descanso, eu acabo por mentir e trair a mim mesmo.
Se a minha intenção é me reconciliar com alguma experiência, pessoa ou situação que me faz bem, mesmo que tenham ruídos em algum nível, se é saudável, não importa o significado que aprendi a dar sobre aquilo.
Essa é a razão frequente pela qual nos frustramos: a nossa incapacidade de medicar o que sentimos, para voltar a ser digno da nossa própria boa intenção de confiança. Ao invés de julgamentos sobre o que nos feriu, podemos ficar curiosos para entender a razão que esse fenômeno nos fez sentir daquela maneira.
Se há alguma sanidade possível para ser vivida e existe alguma progressão a ser experimentada, ela não está na satisfação plena das minhas vontades, mas na fidelidade do cumprimento das minhas boas intenções.
Para isso, preciso montar uma estrutura para apoiar as minhas intenções que me leve a ter maneiras reais de lidar com um conflito ou um possível desacordo. Para além do papo filosófico e de respostas marqueteiras ou que soam como um palanque ideológico, qual é a sua intenção para as áreas da sua vida?
Estou falando sério. Pare para pensar na última vez que ficou chateado com alguém. Não precisa ser nada cruel demais, mas algo que te incomoda demais na pessoa que você convive. Pensou? Agora consegue me dizer o nome dos sentimentos que obteve ali. É tristeza? É raiva? É decepção? É frustração? É expectativa não cumprida? Certo, agora pense sobre qual é a razão pela qual aquela pessoa nos deixou sentindo assim.
Provavelmente você pensará que essa pessoa é relapsa ou irresponsável, que não se importa com o que você é, pensa, sente ou faz, ou até mesmo que é preguiçoso, indisciplinado e que faz tudo isso porque é incompetente, descuidado ou até mesmo quer te atingir de alguma maneira.
No entanto, a próxima pergunta é: por acaso, pode existir outra razão pela qual ela agiu como agiu e te prejudicou do qual sua mente não consegue identificar agora? Seria possível existir algum causador de atitudes nesta pessoa que a sua mente não consegue determinar? Se sim, existe então uma possibilidade de rever todo o diagnóstico com mais cuidado.
Veja, raramente temos uma resposta as coisas que nos acontecem, mas sempre temos uma versão pessoal da percepção do que aconteceu. E nosso cérebro sempre salta para a pior das possibilidades, ou melhor, para aquela que nos afeta individualmente.
Acredito que nós não respondemos ao momento em si, mas acabamos remontando traumas e reproduzindo-os como uma resposta possível as chateações, as mágoas, a sensação de desrespeito ou de indiferença.
Descobrir em que lugar isso se origina nos ajudas a manter a cabeça não só no que nos fere, mas em entender as intenções que temos diante do que nos incomoda.
Carregar consigo sempre uma parcialidade nas decisões nos torna escravos de um universo de pensamentos focados em si, portanto, um pouco menos saudáveis e propensos a falta de realidade. E nessa empreitada, perdemos as oportunidades de ensino e ficando longe da beleza da cura.
Quando identificamos as fortalezas de pensamento que nos dirigem, podemos propor uma gradual e progressiva reformulação, assim, você enxerga as coisas e se torna livre delas.
Se nos sentimos sempre mal com tudo que nos acontece, somos vítimas de nós mesmos. É possível embrulhar o mundo inteiro no plástico-bolha? É eficiente andar por aí com uma armadura? Não e não. Precisamos, então, aprender a contornar obstáculos com a coragem de alguém que confia nas suas próprias intenções e não nos seus sentimentos, nos seus desejos ou nas suas impressões sobre tudo.
A cura nunca é fugir dos riscos e nem tampouco atribuir culpa a falta de equilíbrio do mundo afora, mas a cura se trata de fortalecer-se para o dia em que for exposto à doença.
Então, não importa como você esteja vendo as coisas, boa parte delas é ligeiramente humana, amplamente suscetível e completamente transformadora porque ainda existe uma intenção de conexão que mora em você.
Seja lá como esse texto te encontra nesse momento, não alimente a ideia de que você sofre de um carma intransponível, que a vida não te agraciou com pessoas agradáveis, ou que a sua história é irreversível ou até mesmo que você está em uma encruzilhada porque simplesmente todo mundo tem mais sorte do que você.
Sinta tudo que tem direito, mas não faça dos seus sentimentos uma obrigação para se sentir vivo e digno da vida. O fato é que você precisa deslocar a sua capacidade de se colocar no centro das coisas e nem também culpabilizar ambientes externos a sua vida, mas entender que a melhor cura que existe é aquela que nos expõe totalmente a nós mesmos e nos faz ter uma nova conexão com a vida. Aqui, agora, hoje.
Mantenha as atitudes que te levam as intenções que te curam e não aos sentimentos que te escravizam. Decida agir com intencionalidade e não reagir com emoção vazia. Isso vai te curar de uma forma que você nem sabia existir. Esteja presente, ciente e se recomponha no dia em que suas emoções criarem um motim contra sua sanidade.