Você também se sente descascando um baita abacaxi na vida?

Murillo Leal
4 min readMay 11, 2023

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Queria muito que alguém tivesse me dito antes: “Se você deseja amor, é preciso enfrentar a dor e aprender a mudar. Se precisa de confiança, tem de aprender a dar um pouco dela.”

A gente deseja encontrar a felicidade em nossas vidas, seja na forma de amor ou de confiança, mas, negligenciamos um aspecto crucial desse processo: a disposição de enfrentar as dificuldades e aprender com elas.

Na infância, a vida passava devagar. Eu ia de carona para todo lugar e nunca me preocupei em lembrar que dirigir exige muitas decisões. Olhava pela janela e achava que aquilo andava sozinho. Mantinha os olhos fechados e a janela aberta para sentir o vento bater no rosto até quase perder a sensibilidade dele, ouvindo o barulho da brisa alto num eco interno na cabeça. Algo nisso me dizia que eu tava vivo.

Sempre que tentei controlar as coisas, no final, acabei sendo controlado por elas: tempo, dinheiro, sucesso, pessoas, todas elas. Quando tentamos controlar cada aspecto da nossa vida, inevitavelmente nos tornamos prisioneiros dessas mesmas circunstâncias que buscamos dominar. Talvez seja por isso que perdi a necessidade de ter controle sobre tudo.

O tempo, por exemplo, é uma entidade indomável. Por mais que tentemos moldá-lo à nossa vontade, ele continua avançando, implacável, sem se importar com nossos desejos ou expectativas.

Tentar controlá-lo é como tentar deter o fluxo de um rio com as mãos. Em vez disso, devemos aprender a fluir com o tempo, apreciar cada momento e ser conscientes de como escolhemos investi-lo. Novamente, gostaria que alguém tivesse me falado que era assim.

À medida que envelheço, percebo que não deveria estar tentando ganhar tempo, mas gastá-lo numa velocidade que não seja um desperdício sem sentido. Desperdiçar tempo não se refere apenas a preenchê-lo com atividades vazias e sem propósito.

Também podemos desperdiçá-lo quando estamos presos em preocupações fúteis, em reclamações incessantes ou na busca incessante pela perfeição. Quando nos conscientizamos disso, podemos fazer escolhas mais sábias sobre como investir o nosso tempo e energia.

Deixei para trás as autorregras, abandono as vozes roucas da cabeça que, ora, são minhas, ora são de outros, e que me fazem questionar as minhas escolhas que não posso voltar atrás. Essas vozes são fruto de nossos próprios medos e inseguranças, assim como das influências externas que absorvemos ao longo da vida. Aceito tudo como parte do meu crescimento e aprendizado.

Afinal, saber que algumas delas foram mal direcionadas e enviesadas por enganos não significa que elas estivessem sempre erradas. Reconheci que recalcular a rota sempre foi necessário. É normal que ao longo do caminho percebamos que precisamos ajustar nosso curso, buscar novas perspectivas e redefinir nossos objetivos.

Por onde começa a descascar um abacaxi? Um fruto rude, mas com sabor fino. Acredito que na vida não é difícil descobrir um sabor mais refinado e ter uma compreensão mais profunda de nós mesmos e do mundo ao nosso redor.

Acordo um dia e percebo que o tempo passou sem que eu me desse conta. A vida acontece enquanto estamos imersos nas demandas e nas preocupações do dia a dia, mas, em um instante de lucidez, somos lembrados do convite para priorizar o que é significativo e alinhar nossas ações com nossos valores mais profundos.

No entanto, em meio a essa reflexão, você desperta para uma verdade ainda mais profunda: o que resta é a oportunidade de viver integralmente. Mesmo que o tempo pareça ter passado rápido demais, você reconhece que ainda há momentos preciosos à frente para aproveitar e explorar ao máximo.

Falo sobre o passado como aquele parente distante, que está num lugar para o qual não quero voltar. Às vezes, é necessário fazer as pazes com o passado, perdoar a si e aos outros, e liberar qualquer ressentimento ou culpa que possa estar presente. Isso não significa esquecer completamente o passado, mas sim libertar-se do seu peso emocional e permitir que ele seja apenas uma parte da sua história, não uma prisão da qual você não pode escapar.

Um dia, quem sabe, quero rir com meus filhos e ensiná-los a importância de enfrentar a dor para obter amor, de aprender a mudar e de depositar um pouco de confiança a mais em si e nos outros.

Às vezes, eu queria sentar de frente para mim mesmo e dizer: “Me perdoa por tudo o que eu te fiz passar até aqui e por aquilo que não nos ajudou a ser melhores amigos. Me desculpa, de coração. Mas, obrigado também por não me deixar sair da realidade, recusar a verdade e ter senso de responsabilidade.”

@lealmurillo | Jornalista | Top Voice Linkedin | Storytelling e Conteúdo

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Murillo Leal

#Jornalista e #escritor • TOP VOICE #linkedin 390 mil seguidores • Especialista em #storytelling • Colunista @rockcontent | murilloleal.com.br