Você não é especial, mas pode fazer muita coisa incrível
Conversei recentemente com um amigo que, compartilhou como desde criança sua mãe o incentivava nas coisas, dizendo que ele era bom em tudo e fazendo acreditar que ele podia conquistar qualquer coisa.
Apesar do clima Disneylândiano, ele falava que isso lhe deu confiança demais e que, ao crescer, as expectativas criadas por ele e por ela, eram altas demais, levando-o a se sentir pressionado para alcançar a perfeição.
Respondi dizendo que ele realmente conquistou muito com a confiança, mas lhe faltou um elemento importante na vida: a lucidez sobre sua própria realidade.
Complementei dizendo que aprendi que ser especial é bobagem, mas que se educar a aceitar suas imperfeições e encontrar seu próprio caminho nas possibilidades restantes, valorizando a verdade acima de tudo, e a imposição da realidade sobre minha expectativa, sem desviar da autenticidade, e, principalmente, sendo gentil com a nossa própria ignorância, é o que nos ajuda a ser mais contente e consistente.
Desde cedo, muitos de nós crescemos ouvindo dos nossos pais que somos especiais. É uma mensagem cheia de amor e boas intenções, destinada a nos encorajar e nos dar confiança. Mas, essa ideia, mesmo com boas intenções, pode nos levar a um caminho perigoso de expectativas irrealistas e desilusão.
A vida é difícil e cheia de desafios. Quando somos ensinados a acreditar que somos especiais, podemos acabar mal preparados para enfrentar essa realidade inevitável. A vida, no fundo, não nos deve nada. Sucesso, felicidade e realização não são garantidos só porque nossos pais nos disseram que somos únicos e especiais.
Imagine uma jovem que, durante toda a infância, ouviu que era especial e destinada ao sucesso. Ao enfrentar seus primeiros fracassos na vida adulta, ela pode sentir uma profunda sensação de inadequação e choque. Isso acontece não só porque falhou, mas porque a realidade bateu de frente com a ideia de que ela era especial.
Uma pesquisa da Universidade de Stanford, liderada pela psicóloga Carol Dweck, argumenta que crianças que são constantemente elogiadas por suas habilidades inatas, ao invés de seu esforço, podem desenvolver uma ideia fixa, acreditando que suas qualidades são imutáveis. Isso pode levar ao medo do fracasso, porque cada erro é visto como uma ameaça à sua identidade de “especial”.
A crença na nossa própria especialidade pode minar uma das virtudes mais importantes que podemos cultivar: a humildade. Humildade não é pensar menos de si, mas pensar menos em si. É reconhecer que sempre há algo a aprender e que nossas falhas são oportunidades de crescimento.
Quando acreditamos que somos especiais, podemos nos tornar complacentes. Podemos ignorar críticas construtivas e falhar em reconhecer nossas próprias limitações. Isso nos impede de buscar melhoria contínua e de desenvolver uma verdadeira maestria em nossas áreas de interesse.
A história de Michael Jordan, amplamente considerado o maior jogador de basquete de todos os tempos, é um exemplo claro. Jordan não foi aceito na equipe de basquete do colégio na primeira tentativa. Em vez de sair discursando como ele havia tentado, ele usou essa rejeição como motivação para trabalhar mais duro ainda, treinando incansavelmente para melhorar suas habilidades. Sem saber se ia dar certo, correndo o risco de não dar.
Ele não se via como especial por direito; ele fez coisas especial por meio de esforço contínuo e uma busca implacável pela excelência. Como uma obsessão.
O esporte é cheio de histórias assim, mas é importante entender que sucesso e realização são frutos do esforço e da disciplina, e não da crença na nossa própria especialidade.
Historicamente, vemos que as figuras mais bem-sucedidas não alcançaram seus feitos porque acreditavam ser especiais, mas porque trabalharam incessantemente para melhorar suas habilidades e superar desafios com consistência.
Angela Duckworth, professora da Universidade da Pensilvânia, estava ensinando matemática na sétima série em escolas públicas de Nova York quando percebeu que seus melhores alunos não eram necessariamente os mais inteligentes. A constatação a levou a deixar a sala de aula do ensino médio e se tornar uma psicóloga pesquisadora para que pudesse compreender melhor o papel que habilidades fundamentais como autocontrole e perseverança desempenham nas realizações.
A pesquisa sobre motivação humana, conduzida por Angela Duckworth em seu estudo sobre determinação e paixão por objetivos de longo prazo, mostra que embora a coragem seja importante, existem outros fatores que influenciam o aprendizado dos alunos, como expectativas altas, apoio dos professores e motivação.
Duckworth deu uma palestra no TED em 2013 explicando como a coragem — ou seja, perseverança e paixão por objetivos de longo prazo — é um preditor significativo de sucesso.
Angela fundou o Character Lab, acredita que é necessário colaborar entre pesquisadores e educadores para promover qualidades como coragem, propósito e gratidão na sala de aula.
Ela diz da importância de aceitar os erros e desafios como parte do processo de aprendizagem, e incentivar os professores a fornecerem oportunidades para os alunos aprenderem com seus erros e serem persistentes.
Em vez de nos concentrarmos em nossa própria especialidade, deveríamos focar em como podemos contribuir para o mundo ao nosso redor. A verdadeira satisfação na vida vem da contribuição significativa e do serviço aos outros. Quando nos dedicamos a ajudar os outros e a fazer a diferença, encontramos um propósito e um significado profundos.
Outra história que corrobora com isso foi do médico canadense William Osler, um dos fundadores da medicina moderna, dedicou sua vida a cuidar dos pacientes e a educar novos médicos. Foi considerado o pai da Medicina moderna. Osler era apaixonado por ciências naturais e foi o primeiro a observar e descrever as plaquetas no sangue.
Ele foi um dos fundadores de várias associações médicas e teve uma vida pessoal marcada por tragédias, como a morte de seu filho na Primeira Guerra Mundial. Ele não se via como especial, mas como um servo da humanidade. Sua contribuição continua a impactar a medicina até hoje.
Aceitar que não somos tão especiais quanto nossos pais nos disseram pode ser um ato de humildade que nos leva a uma vida mais gratificante. Se reconhecermos que somos parte de um todo maior, podemos desenvolver uma profunda gratidão pelas oportunidades e pelas pessoas em nossas vidas.
A gratidão por viver o que vivemos nos permite ver o valor das coisas comuns e nos incentiva a retribuir ao mundo. Em vez de nos concentrarmos em nossa própria especialidade, podemos nos concentrar em criar algo especial através de nossas ações e atitudes.
A ideia de que somos especiais, embora bem-intencionada, deve ser equilibrada com uma compreensão realista do mundo e de nosso lugar nele. Humildade, esforço, contribuição e gratidão são os pilares sobre os quais podemos construir vidas significativas e produtivas.
Não somos especiais, mas podemos fazer coisas especiais. É através dessas ações que encontramos verdadeira satisfação, ainda que não seja total, mas podemos fazer coisas especiais no mundo, no outro e em nós mesmos.
Você não é especial, mas só você pode fazer algumas coisas no tempo, no lugar e no ambiente em que tem a dádiva de viver. Comece sem saber onde vai dar.
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@lealmurillo | Jornalista | Top Voice Linkedin | Storytelling e Conteúdoo