Você é vulnerável ou covarde?

Murillo Leal
4 min readSep 22, 2022

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Como dizia G. K. Chesterton: “Cada época é salva por um pequeno punhado de homens que têm a coragem de não serem atuais”.

Quando li isso a primeira vez, fiquei com aquela impressão de que estar fora do seu tempo é uma benção. Essa ideia revela, para mim, que a coragem é mais que um impulso desmedido diante da mudança ou do medo de algo, mas é a força natural que há em quem não se rende ou não se deixa ser seduzido por qualquer novidade ou sentimento que apareça.

É muito fácil entrar nos discursos massivos sem causar em si próprio um momento para pensar bem no que estamos repetindo por aí. Este não é um texto para ignorar o poder da vulnerabilidade, é apenas para duvidar de nós mesmo, na intenção de trazer clareza: dar o nome certo as coisas pode nos salvar de um desastre pessoal.

Não é difícil constatar que o mundo — e toda sua estrutura exaustiva — é gigante perto do tamanho do homem e seu poder de ação.

O gigantismo do mundo apequena o homem e o joga para suas angústias mais essenciais com uma força brutal, empurrando o que sobra dele para um limbo niilista que encontra vazio em tudo que faz, pensa e enxerga a sua volta.

Acredito que este é um dos motivos que nos redemos a sessão universal de saída do armário. Declaramo-nos vulneráveis como quem ganhar um título e consegue fazer um “marketing de si” para atraia olhares, para nos tatuar moralmente como pessoas virtuosas, humanizadas e sacralizada no altar das gentes comuns.

Chegamos no ponto de que se tornou elegante e atrativo se declarara como alguém vulnerável. É de bom tom conversar obre vulnerabilidade, desfilar com livros sobre o tema, discursar na mesa do bar e destilar aos quatro cantos uma autopiedade falsificada.

Claro que é excelente encontrarmos com gente que esbarra na sua mortalidade, que exala o cheiro, sua falta de controle sobre o mundo e que recorrer à sensibilidade para lidar com a vida.

O ponto aqui é que expor fragilidade deixou de ser algo para quem comete a coragem legítima de olhar-se, obter uma forma de reconhecer a fraqueza, mas também de tomar medidas para lidar com isso. Falo de gente que é cartaz de si, que propagandeia discurso sem outro interesse a não ser ter notoriedade.

Fizemos do papo de assumir-se desprotegido como um vício linguístico que transforma o natural constrangimento diante do erro e do arrependimento em mera confissão pública para ganhar reputação.

Em frente ao espelho é onde deveríamos ter a conversa mais sincera do mundo. Não cabe fachadas diante de si. Assumir fragilidades como quem faz uma campanha publicitária, sem o compromisso de encontrá-las e atuar ativamente sobre elas é um movimento vão.

Reconhecer déficits de si é diferente de permanecer de frente com a plena covardia de não assumir certas demandas e buscar caminhos para corrigi-las. Uma coisa é não conseguir chegar em algum lugar diferente, outra é não tentar encontrar esse caminho.

Nem toda vulnerabilidade é sadia, algumas delas nos param e precisam se fortalecer para se tornarem algo produtivo. Se você não consegue suportar seu próprio peso, outra pessoa terá que fazer por você. Isso é tão perigoso, egoísta e te torna uma bomba relógio para si mesmo e para os outros.

É muito fácil sentir-se amargo com a vida ou ressentido com pessoas e situações por causa de um enorme senso de justiça distorcido, por simplesmente ocupar o lugar do mártir.

A sua vulnerabilidade tem que te levar para a decisão de mudança e não te fazer sentar na poltrona da vítima.

A ideia de alcançar um lugar de conforto, que seja justo, que respire o ideal e que pareça um mundo redentor do mal é o que nos leva para a mais absoluta descrença no sentido de tudo. A única forma de lidar bem com a vulnerabilidade é agir e começar a atuar nas pequenas parcelas de responsabilidades que temos, influenciando o micromundo que vivemos, alterando gradualmente também o que somos. Propositalmente.

Ser vulnerável é, sem dúvida, uma forma de coragem, mas ela tem que vir com um plano para te proteger de si mesmo e para te manter em pé. Você não é o que você pensa que é, você é o que você faz com o que descobre que é.

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Written by Murillo Leal

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